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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Texto de Fernando Lara é usado em prova escolar

Alunos de 10 anos da Escola Batista de Acesita avaliam o 'seu espaço geográfico' por meio das experiências de Fernando Lara. Foto: Divulgação EBA
A Rotas Verdes Brasil chega a sala de aula e em grande estilo. Um dos textos do documentarista de natureza da Fauna e Flora Documentários, Fernando Lara, acabou virando tema de análise em uma das provas de Geografia dos alunos do 5º ano da Escola Batista de Acesita, em Timóteo (MG). Os alunos têm idade média de 10 anos.

O texto “Em cada lugar, um sotaque”, foi produzido especificamente para a 5ª edição da revista Contexto, uma das apoiadoras da Rotas Verdes Brasil. A publicação irá divulgar em todas as edições, até o final da expedição, um diário com os acontecimentos mais importantes vividos por Fernando Lara durante o projeto. 

Quem levou a revista para a sala de aula, foi a aluna Vitória, filha de Márcio de Paula, um dos responsáveis pela Contexto. A matéria chamou a atenção da professora Cláudia Sodré. “É um texto que mexe e emociona muito a gente. Ele fala, em uma linguagem simples, as sensações que ele tem na floresta e o respeito que se deve ter ao entrar dentro dela e achei que fosse adequado usá-lo com as crianças’, afirma a docente.

Segundo a professora, o texto de Fernando Lara chegou no momento em que os alunos estavam estudando o ‘seu espaço geográfico’ e a interferência que cada um tem dentro dele. Em uma das questões, Cláudia Sodré, pediu aos estudantes ilustrassem este trecho “A vida está dentro da floresta e não fora dela. É lá que nascem as chuvas...e é nela que morrem os gases. Um passo vagaroso de cada vez porque os bichos e as árvores sabem quando a gente está lá. Na floresta, a fauna e a flora gritam todos os dias’.

Segundo Cláudia, os desenhos foram diversos. “Algumas crianças ilustram com o ‘pisar’ na floresta, outras com árvores e rios. Mas houve aqueles alunos que tiveram um olhar mais negativo e ilustraram com queimada, árvores cortadas e lenhas ao lado. Os pontos de vista foram diversos’, afirma a professora. A avaliação foi aplicada no mês de agosto.

O texto ‘Em cada lugar, um sotaque’, foi produzido por Fernando Lara no mês de junho, durante os trabalhos do documentarista de natureza na Estação Ecológica do Taim (RS), onde enfrentou temperaturas extremas que chegaram aos 4 graus negativos.

Leia abaixo o texto na íntegra ou o clique aqui para ler a matéria com imagens de Fernando Lara na Revista Contexto.

Em cada lugar, um sotaque
Por Fernando Lara

O Brasil muda a cada 200km. Esta é a minha constatação nos meus mais de 50 dias de estrada percorridos pelo projeto Rotas Verdes Brasil. Em cada lugar que eu paro, o comportamento das pessoas é diferente. Assim como as gírias, os palavrões, as entonações de voz, o modo de andar, de parar e de prestar atenção ao mundo ao seu redor. 

No momento que escrevo esta parte do meu diário, estou na Estação Ecológica do Taim, no extremo sul do Brasil, a menos de 140 km do Chuí e da fronteira com o Uruguai. São 22h30 e o frio é de apenas 10 graus. Já passei por mais de 150 cidades, nove unidades de preservação e estou a mais de três mil quilômetros longe da minha família e dos amigos. Minha casa muda praticamente a cada semana. Já dormi em alojamento de pesquisadores, hospedarias, pousadas, na casa de conhecidos e até em quartel de polícia. Neste dias de estrada solitária, tenho acompanhado o trabalho dos gerentes de unidades de preservação, responsáveis por proteger o que ainda não foi destruído por nós. São homens e mulheres de coragem, que a cada dia têm que proteger um pedaço do mundo para que ninguém “mate mais um leão”. 

Os motivos que levam à destruição das nossas reservas são muitos. A culpa é nossa em todos os sentidos. Tem gente brigando pra ter mais gado, pra ampliar a agricultura, para passar uma estrada no meio do caminho de uma jaguatirica. Outros brigam para morar na encosta do morro e morrem para não saírem de lá. Também há quem deseja mais madeira para fabricar móveis e carvão para aquecer os motores. E há quem diga que não é preciso proteger o rio porque tem peixe fresco e limpo no supermercado. 

A vida está dentro da floresta e não fora dela. É lá que nascem as chuvas que os jornais julgam serem as culpadas pelas mortes em época de enchente. E é nela que morrem os gases que entorpecem nossos motores e sufocam nossos narizes e olhos todos os dias sem a gente perceber. Mas para entrar na mata é pr eciso fazer silêncio. Um passo vagaroso de cada vez porque os bichos e as árvores sabem quando a gente está lá. Na floresta, a fauna e a flora gritam todos os dias, mas a gente não escuta. Estamos presos aos cordões de Ipads e smartphones escutando um mundo imaginário. A natureza pede socorro, mas não é pra si mesma. Quem morre não é a natureza. A morte bate é na porta da gente.