Com raras exceções a caça é permitida no Brasil. Com a habilidade de fazer grandes descobertas que envolvem o meio ambiente, o documentarista de natureza da Fauna e Flora Documentários, Fernando Lara, registrou essa exceção a regra durante os trabalhos realizados na 14ª unidade de conservação da Rotas Verdes Brasil, a Floresta Nacional do Jamari, em Itapuã do Oeste (RO), há cerca de 100 quilômetros de Porto Velho.
Neste vídeo, a Rotas Verdes Brasil traz um relato incrível de como agem os caçadores do Brasil. O depoimento é de Juvenal dos Santos Faria, 37 anos, que mora com a mãe e um irmão em uma área demarcada de 1.800 hectares, na Flona do Jamari. O caçador faz parte de uma família que há mais de 50 anos vive da caça e de produtos retirados da Floresta Amazônica.
Juvenal mostra uma das técnicas que há gerações é usada para abate de animais selvagens no Brasil. Trata-se do jirau (ou puleiro de caça), uma base feita de galhos de árvores, suspensa, que facilita a visão do caçador. O artefato está próximo de um barreiro, um monte de lamas que surge naturalmente em florestas. Em época de calor e seca, os animais vão até esses barreiros para se refrescar.
Juvenal mostra como é feito o abate de animais em cima de um puleiro. Foto: Fernando Lara |
O caçador mostra como age. No barreiro, ele coloca sal iodado para atrair os bichos que comem o sal criando um ponto de ceva. Enquanto os animais se alimentam, Juvenal usa o jirau como ponto estratégico para atirar. Ele usa o artefato também como proteção. “Esse jirau é também por causa da onça. As vezes ela pega a gente por trás, porque a ‘bicha’ pisa macio. As vezes de cima ela (onça) vê a gente também. Só que quando ela não vem ferir a gente, aí gente não mexe com ela’, relata.
Leis
Em termos gerais, a caça de animais silvestres é proibida no Brasil. De acordo com a Lei 9.605/1998 que rege sanções, condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, a pena pode ser de seis meses a um ano de prisão, mais multa, e pode ser agravada caso o réu seja reincidente, um caçador profissional, o crime seja realizado em uma unidade de conservação, a caça seja vendida, ou ainda, praticada com animais ameaçados de extinção.
No caso específico de Juvenal, a caça é autorizada pelo Governo Federal. O documento que autoriza o uso da sua área para a prática tem como testemunha o ex ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A justificativa é a subsistência da família que usa os recursos naturais da floresta, e sobrevivem ainda da extração do óleo de copaíba, além da colheita do açaí e da castanha. Com o uso de técnicas de conservação da carne, como a desidratação usando sal, uma paca pode durar uma semana e uma anta de 200 quilos pode alimentar a família por até três meses.
Casa onde mora a família de Juvenal que há mais de 50 anos vive na região onde hoje é a Flora do Jamari. Foto: Fernando Lara |
A família de Juvenal está desde a década de 50 na área, antes mesmo da criação da Flona do Jamari. O avô dele, um seringueiro foi para a região para trabalhar como ‘soldado da borracha’, um contingente de ‘militares da selva’ que trabalhavam para o governo para abastecer o mercado da borracha durante a 2ª Guerra Mundial, com a promessa de que seriam indenizados assim que o conflito acabasse. Após a decadência deste segundo ciclo da borracha, muitos seringueiros foi embora, mas o avô de Juvenal permaneceu no local.
A produção e veiculação deste vídeo foi autorizada por Juvenal com a justificativa de que Fernando Lara usaria as imagens para mostrar como ocorre a caça em puleiros, ilegal no país. Todo cidadão tem o dever de denunciar crimes ambientais aos órgãos de proteção e fiscalização como a Polícia de Meio Ambiente, Ibama e ICMBio.
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