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Uma denúncia. Um pedido de socorro.


No dia 15 de setembro de 2011 eu estava na cidade de Presidente Figueiredo (AM) trabalhando pelo projeto Rotas Verdes Brasil quando recebi juntamente com o chefe da APA Maroaga, Adevane Araújo, a notícia de que havia uma onça-pintada comendo os porcos de um pequeno agricultor. O local ficava a 70 km por terra e mais uma hora e meia de barco de onde eu estava. O proprietário de terra se preparava para matar o grande felino.

Decidimos interferir. Eu já estava cansado de ouvir tantos relatos desse tipo de tragédia durante esses meus longos dias de expedição. Como documentarista de natureza, fiquei em dúvida como eu poderia ajudar este grande animal que havia atacado os porcos da propriedade de um fazendeiro sem colocar ninguém em risco.


Ninguém se machucou. Tocamos a onça com três cachorros que pegamos emprestados. Consegui as imagens e a história se tornou famosa. Os jornais gostaram e muitas pessoas aplaudiram. O animal está vivo e o fazendeiro está livre dela por alguns dias. Mas e as outras onças de nossas terras?

Imagens feitas por um caçador após abate de uma onça-pintada na Floresta Amazônica.

No dia que saí do Parque Estadual do Rio Doce, a maior área de Mata Atlântica preservada do estado de Minas Gerais, estava decidido a construir uma arca maior que a de Noé e fugir com o máximo de animais embarcados acelerando um gigantesco motor flex consumindo o nosso brasileiríssimo etanol. Mas não temos mais tempo para fugir da verdade. Há seis meses, dos oito previstos para esta expedição, conversei com dezenas de fazendeiros em diversos pontos de nossas terras. Todos, sem exceção, admitiram ter matado algum animal selvagem em uma espécie de vingança pelos ataques as criações domésticas de suas propriedades.

O agricultor dos 13 porcos mortos pela maior felino das Américas declarou diante de minhas lentes (pasmem) que as ‘onças pintadas estão proliferando e invadindo as florestas’ (sic). Outro fazendeiro também dono de terras em outra Área de Proteção Ambiental falou em off como elimina os graxains, um canídeo muito comum no sul do Brasil, usando bolas de sebo envenenadas. Os pobres bichos são acusados de matar filhotes de ovelhas. Inocentes são injustiçados. Está comprovado por estudos que graxains não comem esses filhotes.

Macaco Bugio apreendido por fiscais do CEUC/AM no Amazonas. Algumas pessoas usam a carne deste bicho para comer. Fotos: Fernando Lara
O valor pago por fazendeiros a um caçador profissional de onça-pintada nos tempos atuais no Pantanal varia de R$ 800 a R$ 2 mil por cabeça. Na Amazônia é um pouco mais caro, entre R$ 1.000 e R$ 2.500.  Uma raça de cachorro chamada de americano, utilizada por caçadores e  bem treinada para acuar grandes felinos, pode chegar a custar R$ 5 mil.



Caçadores da Amazônica. Foto: arquivo F&F Documentários/2006

Conversei com dezenas de pessoas incluindo agentes do ICMBio e Ibama sobre a existência de comercialização da pele desses felinos em tempos atuais. Não encontrei sinais desse tipo de atividade em nenhum dos locais em que estive nessa expedição. O que pode apontar que o ataque a animais domésticos seja o maior motivo para a caça de onças-pintadas nos dias de hoje.


Armadilha para guaiamuns. Foto: arquivo F&F Documentários

O mais incrível disso tudo é que o real inimigo do homem do campo pode ser um amigo do dia a dia ou um parente qualquer. Os caçadores profissionais e os receptores de carne de animais silvestres nas cidades são os inimigos de verdade e criam demanda por uma matança indiscriminada gerando desequilíbrio nas floretas e levando as onças a comer animais domésticos e a chegar assustadoramente perto das famílias e de suas crianças.


Apreensão de gaiolas por servidores do Ibama no Piauí. Foto: Fernando Lara

A caça predatória é uma forma egoísta de ganhar dinheiro. Poucas pessoas lucram e todos nós perdemos com isso. Identifique os ‘amigos da onça’ na sua cidade e os denuncie as autoridades por hoje e pelo futuro. A melhor forma de ajudar a salvar as onças pintadas nos tempos atuais é denunciando a comercialização de carne de animais silvestres.

Jaguatirica morta por atropelamento na BR 381, próximo ao Vale do Aço (MG). Foto: arquivo F&F Documentários/2010
É Bom lembrarmos que nem toda atividade de caça no Brasil é ilegal. Existem casos como o que encontrei na Floresta Nacional do Jamari, uma unidade de conservação federal, onde a família Benjamim usa a caça de animais silvestres como subsistência. É uma exceção a regra na legislação. Morando há 50 anos no meio da Floresta Amazônica, antes mesmo da criação da unidade de conservação, a família Benjamim conseguiu uma autorização do Ministério do Meio Ambiente para matar animais somente para comer.

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Por Fernando Lara