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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ESPECIAL BR 319 - uma cicatriz no meio da Floresta Amazônica

Fernando Lara e a Honda Bros precisaram de três dias para atravessar 600 km intransitáveis da BR 319. Foto: Fernando Lara
Atravessar uma rodovia federal de 877km, ligando duas capitais e atravessando dois estados, pode ser uma situação rotineira, mas não quando se trata da BR 319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). A estrada inaugurada na década de 1970 é o único acesso por via terrestre dos estados do centro sul para o estado do Amazonas. No entanto, não é utilizada porque é intransitável. Não há linhas de ônibus e nem mesmo os moradores locais se arriscam em  transitar pela rodovia que passa bem no meio da Floresta Amazônia.

“Eu não considero a BR 319 uma estrada. É na verdade uma cicatriz que a floresta está fechando aos poucos, arrancando o asfalto, entrando e engolindo a rodovia. Eu nunca vi nada igual. Foi mais que um desafio. Foi uma experiência de vida. Na maior parte do tempo era eu e a minha Honda Bros totalmente solitários. Não havia nenhum ser humano ou carro e os únicos sinais de vida eram os sons que surgiam da selva,’ descreve.

Veja o vídeo da passagem pela BR 319

O percurso da BR 319 começou em Porto Velho (RO) depois da travessia pelo Rio Madeira. Até Humaitá (AM) a estrada é perfeitamente transitável, mas já não existem postos de gasolina. Já em território amazonense a preparação foi uma medida crucial para o trajeto e incluíram reserva de alimentos; 25 livros de combustível além do tanque da Honda Bros; e um pneu com câmara de ar. 

1º dia (01/09)
Depois de enfrentar uma tempestade que varreu Humaitá, Fernando Lara e a Honda Bros seguiram caminho, mesmo com a previsão do tempo indicando chuva. Era preciso seguir em frente. Esperar a chuva poderia atrasar ainda mais a partida uma vez que quanto mais encharcada a estrada, pior a travessia.

Posto de gasolina abandonado e tomado pelas folhagens da floresta. Foto: Fernando Lara
A primeira parada foi na comunidade Realidade, no Km 555 da rodovia, há mais ou menos 100km de Humaitá. Fernando Lara parou em uma ‘venda’ e conversou com alguns moradores que relataram haver poucos que se aventuravam a atravessar a BR 319.  Aqueles que iam solitariamente eram mais raros ainda. “Depois de Realidade a estrada fica ainda pior. Os buracos aumentam em quantidade e tamanho e as pontes são péssimas’, descreve o documentarista de natureza.

Fernando Lara acampa na casa dos 'Catarinos', às margens da BR 319. Foto: Fernando Lara
No caminho, 100km depois de Realidade, Fernando Lara conheceu uma família de catarinenses que mora as margens da rodovia. Por causa da origem a família é conhecida como ‘Catarinos’. Foi por lá que o documentarista de natureza pernoitou acampado e já cansado, depois do primeiro dia de viagem.

Doce sorriso da pequena integrante da família dos 'Catarinos'. Foto: Fernando Lara
2º dia (2/9)
De acordo com Fernando Lara o segundo dia foi ainda pior. “De vez em quando eu via uma casa aqui, ou ali. Mas depois dos ‘Catarinos’ não existe mais nada . Se acontecesse alguma coisa comigo ou com a motocicleta não haveria a quem recorrer”. Dos 877 km, cerca de 600 km são considerados intransitáveis na rodovia. Estima-se que menos de 500 pessoas morem neste trecho ruim o que demonstra a baixa densidade populacional da região.

Uma das poucas casas encontradas ao longo da BR 319. Foto: Fernando Lara
A estrada também não tem circulação de veículos. “Em todo esse trajeto os únicos motores que ouvi foram de um grupo de jipeiros e outro de motociclistas que vinham de Manaus, todos experimentando uma aventura. Não eram moradores dali”, relata.

Mutum ao longo da BR 319. Foto: Fernando Lara
Nessa segunda parte do trajeto foram 265km de estrada. Fernando Lara demorou mais de 10 horas para fazer este trecho. “A Honda Bros demonstrou ter muita resistência. Não imaginava que uma motocicleta pudesse suportar tanto castigo. Não tive nenhum problema com ela durante o percurso e mostrou mais uma vez que a concessionária Mavimoto acertou quando escolheu esta motocicleta para ser o veículo oficial da expedição”, afirmou.

Existem 125 pontes ao longo da BR 319. A maior parte delas em péssimo estado. No detalhe o caminhão do Exército Brasileiro. Foto: Fernando Lara
Neste percurso, além do abandono, do asfalto quase inexistente, as mais de 125 pontes encontradas por toda da rodovia, estão quase todas elas em péssimo estado. Em uma delas, Fernando chegou a encontrar um caminhão do Exército Brasileiro abandonado. O veículo caiu sobre o leito de um rio depois de tentar passar em uma ponte que não suportou seu peso. Talvez, por causa das condições da rodovia, ninguém tenha tentado ‘resgatá-lo’.

Depois de um dia inteiro de dificuldades, Fernando Lara pernoitou na comunidade do Igapó-Açu, no Km 255, na Pousada da Dona Mocinha. O lugar é muito conhecido na região e é usado com freqüência por aqueles que se arriscam em passar pela rodovia.

Permuta. Frutas da região por dois litros de combustível. Foto: Fernando Lara
3º dia (3/9)
Ainda faltam cerca de 150 quilômetros de estrada ruim. Manaus está há 250 quilômetros e é o destino final de Fernando Lara. No dia de seu aniversário, o documentarista de natureza irá completar o desafio mais difícil da Rotas Verdes Brasil que é o de atravessar a BR 319.

Fernando Lara e Donda Mocinha na comunidade Igapó-Açu. Foto: Divulgação

No meio do caminho uma cena impressionante. Dois meninos pedem para trocar combustível por frutas da região, que seria usado pelo pai para abastecer o carro. Fernando Lara ainda tinha de reservas de dois litros que cedeu para as crianças. Vale lembrar, que a Rotas Verdes Brasil usa preferencialmente etanol, por ser um combustível mais limpo. No entanto, no percurso da BR 319, foi usada a gasolina uma vez que este combustível gera mais autonomia por litro proporcionando a necessidade de menos volume. 

Crianças se banham no Rio Igapó-Açu - Foto: Fernando Lara

Mulher toma banho no Rio Igapó-Açu. Foto: Fernando Lara

Já no final da tarde, finalmente Fernando Lara chega em Careiro, a primeira cidade depois de 600km de estrada ruim, já bem próximo de Manaus. Três dias de uma viagem inesquecível pelo meio da floresta vendo diversos animais por todo o percurso. “Mas o que mais me impressionou foi ver como as pessoas que ainda resistem em morar em um lugar de tamanho isolamento”, afirma. 

Tucano-de-bico-preto às margens da BR 319 . Foto: Fernando Lara
Para a Fauna e Flora Documentários, a BR 319 será um capítulo especial no nosso livro digital e evidentemente uma parte importante na história de 7 anos do grupo. Agradecemos a todos que torceram para que tudo corresse bem nesta etapa importante da expedição e principalmente a natureza que conspirou positivamente para que nada saísse errado.

E até dezembro ainda há muito trabalho pela frente. Primeiro em Manaus, depois o nordeste brasileiro. Não deixe de seguir esta estrada junto com a gente.

No próximo post um vídeo especial sobre a BR 319. Não perca!

Por Edlayne de Paula